quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O desafio de trabalhar como au pair e lidar com a educação em outro país...

Quem trabalha ou já trabalhou como Au Pair sabe exatamente do que estou falando... trata-se de um verdadeiro desafio lidar com os pequenos, sejam eles bebês ou mais velhos! A dificuldade entra quando nos deparamos com diferenças culturais, o que resulta em um estado de alerta constante, pois qualquer coisa pode ser diferente do que aquilo que você aprendeu ter como verdade...
Mas vamos lá...
Outra reflexão é: se algo em seu intercâmbio parece fácil, acredite e espere, em algum momento encontrará dificuldades, sejam elas pelo simples fato de acontecerem em um idioma diferente ao que é seu como nativo, ou por convivência, por exemplo. 
E são a partir de pensamentos como estes que passei por problemas na casa que escolhi para ser au pair, mas através da comunicação permaneço em busca de encontrar as melhores soluções para ambos os lados. Claro, sempre em alerta para identificar comportamentos de exploração por parte da família, o que é bem comum aqui na Irlanda, já que a atividade não é regulamentada, apenas encaixada como 'empregado doméstico'. Não podemos deixar de considerar também o abuso por parte da Au Pair... o que pode vir a acontecer.

Desafio
Você deve está se perguntando onde quero chegar. 
Pois bem... 
Fazem aproximadamente dois meses que estou trabalhando como Au Pair e desde então tem sido um desafio diário:

- Vencer a minha timidez e esse meu jeitão de querer e gostar de ficar na minha (escrevendo no meu blog, assistindo minhas séries ou simplesmente usando a internet); 

- Procurar sempre me socializar com a família, ficar a vontade e deixá-los a vontade como se eu fosse realmente membro da família; 

- Me adequar a alimentação (lembrando que eles levam ao pé da letra da refeição 'lunch', que é a hora do almoço, mas costumam comer apenas um sanduíche ou algo bem leve e sendo o jantar servido em um prato de sobremesa, sempre com apenas uma proteína e um carboidrato).

- Me adequar ao comportamento e a rotina da família. Procuro estar sempre alerta e 'dançar conforme a música'. Eu sei exatamente como a Bláithin (menina de 10 anos que eu cuido) gosta da sua cama arrumada; em que posição ela gosta do seu zíper na mochila; que ela não come a maçã quando tem algum 'marronzinho' ou machucadinho; que ela tem pavor de aranha (por isso toda vez que eu limpo o quarto dela eu procuro tirar dos as teias de aranha e se possível fazer uma atividade 'caça aranha', para quando ela chegar não ter a chance de encontrar nenhuma; assim como outros comportamentos que parecem bobo, mas que eu acredito ser fundamental serem realizados, para que o impacto da presente de uma estranha na casa (Eu), seja o menor possível.

- Enfrentar a dificuldade de nunca saber se sou bem vinda naquele momento ou não, se posso entrar na cozinha ou na sala, mesmo que a porta esteja fechada, ou se é uma hora oportuna para iniciar uma conversa.

- Mesmo sabendo do meu horário de trabalho, estar sempre a disposição para ajudá-los em algo, já que moro aqui e não custa nada eu tornar a convivência mais agradável e claro, mais familiar.

- Quando e como reclamar quando algo não está bom... Ou o colchão que não está bom, algo que é necessário comprar

- Como lidar quando a Host Family começa a interferir na sua rotina pós trabalho (momento em que a princípio você está livre para ficar no seu quarto, descansar, assistir algum filme ou série)

Bom, essas são algumas das pequenas atividades diárias que faço por aqui, que ultrapassam a simples obrigação de cuidar da criança e limpar a casa. Mas que eu acredito ser fundamental para uma convivência agradável. 
Porém, as coisas tem uma dimensão maior, ainda mais quando cobramos os nossos direitos ou procuramos fazer o que aprendemos como certo. Então, não espere que nada que você faça seja reconhecido, até porque, no meu caso, eu não espero elogios ou agradecimentos, apenas faço de coração em busca de uma experiência positiva.

Está na Lei
Quanto aos direitos... embora sejamos enquadrados como profissionais domésticos, temos salário mínimo, direito a casa e alimentação, férias remuneradas e outros pontos que devem ser levados em consideração por ambos os lados. Mas são poucas as famílias que seguem isso e muitas jovens que aceitam trabalhar por precisar de dinheiro para se manter no país. E por ser uma forma cômoda de completar um ano ou mais no exterior, já que dessa forma você não se preocupa com aluguel e alimentação.
E por mais que a família pareça boazinha, assim como muitas pessoas que se intitulam como 'chefe' e não líderes de verdade, vão achar ruim quando você cobra seus direitos, e podem mudar da água para o vinha durante essa conversa. 
Foi assim que aconteceu comigo, não por cobrar a lei, mais um combinado durante a entrevista de contratação. No final, tudo tomou o rumo que deveria, mas conclusão: muita coisa foi prometida, mas na prática nem sempre é igual.
Aí a importância de um contrato entre as partes, o que também não é de costume acontecer por aqui. Exceto através de alguns que buscam jovens para trabalhar como au pair, realizam o processo de recrutamento e cobram uma taxa por isso. Apesar de mais caro e uma forma que polpa esforços, vivência da experiência e aprendizado, na minha opinião, não deixa de ser um ponto positivo.
Em resumo, muitas vezes temos medo de como nos comportar diante da família, vem o receio de você ter que deixar a casa imediatamente. Mas há também meios de denunciar e lugares para se pedir ajudar, caso a jovem se sinta violada. 

E onde entra a educação nisso tudo?
Aqui na casa, em especial, comportamentos da criança que eu cuida vem me chamando atenção, como mentiras constantes (por coisas bobas, mas não deixam de ser mentiras) e falta de pulso dos pais para a correção foram as primeiras coisas que comecei a detectar.
Com o tempo, a menina que parecia um amor e fácil de lidar passou a pegar comida escondido da cozinha, falar mal dos amiguinhos para justificar que não deseja brincar na rua com eles, e por último, após dar falta de alguns objetos meus, achei sem querer escondido no quarto da menina. 
Diante desses comportamentos, acionei a mãe e após a conversa tanto ela quanto eu conversamos com a menina. Porém, não percebi por parte da mãe uma ação de correção e nem de sensibilização da menina. E logo após ainda ouvi da mãe que ela tem apenas 10 anos e não tem noção do que é certo ou errado e em seguida: não se preocupe com o futuro dela, ela ficará bem!
Alguma dúvida de que eu sou apenas uma figurante nesse processo?!
Eu que pensei que estava aqui para cuidar da menina, limpar a casa, mas também acrescentar e auxiliar no processo de educação, vi que não devo, ou pelo menos não deveria me preocupar mesmo!
E isso me faz lembrar uma conversa recente, que a mãe decepcionada com o seu trabalho, disse que iria procurar outro, pois não via sentido trabalhar e não ver resultado. E quer saber? É exatamente assim que me sinto, porém sem saber o limite que as atitudes da menina são apenas coisas de crianças e quando passam a ser realmente preocupantes. 
Agora? Infelizmente é ficar em alerta para observar se o comportamento permanece. O que eu não duvido, até porque, se fosse no Brasil, pelo menos de acordo com a educação que eu recebi, tando o pai como a mãe sentaria como o filho nesse momento, explicaria o porque é errado e tentaria entender o que poderia ter levado a essa atitude. E aqui não acontece a participação de ambos nesse processo e ao invés de correção, a mãe apenas justifica e cria 'n' motivos para aquele comportamento.

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